Uma professora da rede estadual procurou a reportagem para relatar que tinha dificuldade de lecionar para 52 alunos de uma sala numa escola de Santa Luzia, município da região metropolitana de Belo Horizonte. Imagine-se a dificuldade de os alunos absorverem algum conhecimento nas mesmas circunstâncias.
A professora demonstrou coragem, para não dizer consciência ética, ao denunciar a situação. Mesmo que esse não seja um problema generalizado no ensino público, o fato de existir um só já expõe uma anomalia ou algo que não poderia existir. Pior se ele se repetir em outras unidades de ensino, como parece ocorrer.
A escola tem salas disponíveis em suas instalações físicas. Mas, por uma determinação do governo, só pode abrir novas turmas de uma mesma série se o número de alunos ultrapassar 35 mais 50%. A resolução só está sendo cumprida porque alunos excedentes foram transferidos para o turno da noite.
Informalmente, a alegação que circula é que, dividindo a turma, teriam de aumentar a carga horária dos professores. Mais correto seria que aumentassem o número de professores. Então, o governo estaria fazendo o que propaga, tratando educação como investimento, como ensinam os países sérios.
Mais de 30 alunos numa turma, sobretudo se adolescentes, como é o caso, configura uma regressão insuportável. Isso ocorre porque o governo, no afã de cumprir o dispositivo constitucional, retornou a uma prática de 30 anos atrás, que é juntar numa mesma turma alunos de idades e escolaridades diferentes.
Além da superlotação, a multisseriação instalou a confusão no processo pedagógico, com programas e conteúdos diferentes, ministrados por um só professor. Ora, isso não pode dar certo, a não ser estatisticamente. É nesses primeiros anos que se forma o conjunto de habilidades para o aluno prosseguir nos estudos e na vida.
As principais vítimas desse modelo são quem precisa da escola pública: os estudantes pobres.
Fonte: Jornal O Tempo - 28/02/2012
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