domingo, 26 de junho de 2011

Participantes de encontro em JF pedem valorização de professores

A capacitação e a valorização dos profissionais da educação, com a implantação do piso nacional para os servidores da categoria e o aumento do percentual orçamentário investido na área. Essas foram algumas das principais propostas apresentadas pela Zona da Mata para enfrentar a violência nas escolas.

O primeiro encontro de interiorização do Fórum Técnico Segurança nas Escolas - por uma cultura de paz, realizado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais reuniu cerca de 450 pessoas de 40 municípios da região, em Juiz de Fora, nesta terça-feira (21/6/11).

O fórum realizará ainda quatro reuniões em outras regiões do Estado e, entre os dias 5 e 7 de outubro, será encerrado em Belo Horizonte, com a votação das propostas apresentadas em todo o Estado.

Três grupos de trabalho discutiram a violência na escola e apresentaram dez propostas cada para serem encaminhadas para a etapa final do fórum, em Belo Horizonte. Os temas discutidos pelos grupos foram Violência no ambiente escolar (Grupo 1); Integração de ações e programas (Grupo 2) e Prevenção e combate à violência escolar (Grupo 3).

Os grupos sugeriram, entre outras ações, a criação de uma escola de pais, em atendimento ao artigo 129 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ou voluntária; a incorporação de conteúdos voltados à prevenção da violência nos currículos escolares e a criação de uma rede de atendimento multidisciplinar dentro da escola, com a participação de psicólogos, assistentes sociais e, ainda a valorização dos conselhos tutelares.

A implantação do piso nacional também foi reivindicada por servidores da educação que estão em greve e fizeram uma manifestação durante a abertura do fórum, interrompendo as falas dos deputados por alguns instantes.

Pesquisa revela sensação de insegurança entre professores e alunos

Os alunos de Juiz de Fora se sentem mais vítimas da violência escolar que os professore. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa desenvolvida pelo Centro de Pesquisas Sociais da UFJF, realizada no 2º semestre de 2009, abordando os temas juventude e escola. Os resultados do estudo foram apresentados pela sociológa e pesquisadora da UFJF, Janaina Sara Lawall, que expôs sobre o tema Panorama da violência no ambiente escolar, no fórum.

A pesquisa ouviu professores, estudantes e outros representantes da sociedade por meio de pesquisa quantitativa. De acordo com a pesquisa, na percepção do jovem, a escola é mais violenta que na percepção do professor.

Alguns dados foram apontados como preocupantes pela pesquisadora, como o esgarçamento das relações, a quebra de hierarquia e a ausência de autoridade no ambiente escolar.

A pesquisa também aponta que os alunos revelam terem sido mais agredidos que os professores, no percentual de 11,8% contra 7%. No entanto, segundo Janaina Lawall afirmou, o aluno não desqualifica a violência sofrida pelo professor, confirmando as ocorrências.

Os alunos citam o "constrangimento", entendido por eles como ofensa e agressão verbal, sobretudo, como a agressão mais importante (70%) sofrida por eles. "A violência eclode na escola, mas não tem sua origem apenas no ambiente escolar", afirmou a socióloga.

A pesquisa ainda revelou que a visão negativa que se tem do jovem hoje contribui para a postura desregrada e violenta. "Nesse sentido, embora a reação violenta seja espantosa, é esperada", avaliou. O jovem, segundo ela explicou, é quem tem a pior imagem de si mesmo. Isso deixa transparecer, de acordo com a pesquisadora, o deslocamento e a exclusão individual do grupo, ou seja, o jovem pesquisado não se sente pertencente a categoria juventude.

Janaina Lawall disse que a pesquisa poderia levar a pensar que a escola é um lugar sombrio, mas há outros resultados que desmentem isso. O levantamento revelou que os entrevistados enxergam a escola como espaço importante, agradável e acolhedor além de identificarem o espaço como positivo para o aprendizado.

A pesquisadora destacou o aumento da sensação de insegurança e a colocação do jovem como principal protagonista dos atos criminosos na atualidade, apontados pela pesquisa. "Não dá para tratar o jovem como predisposto à delinquência, isso já é um preconceito contra a juventude. Se fosse assim, a escola não seria escola, seria prisão", concluiu.

Experiências - Em um segundo painel, "Experiências na prevenção e no combate à violência escolar", a coordenadora do Programa Escola Viva Comunidade Ativa da Secretaria de Estado de Educação, Maria Cristina Pinheiro, apresentou os resultados do programa.

O programa nasceu em 2003 e foi pensado, inicialmente, para atender a uma centena de escolas de Belo Horizonte e Região Metropolitana que passavam por um momento de caos e desorganização, a começar pelos problemas de estrutura física.

O objetivo do programa era então preparar as escolas para atender as necessidades educativas das crianças e jovens mais afetados pelos fenômenos da violência e da exclusão social.

Hoje, segundo a expositora, o projeto está presente em 501 escolas de 36 regionais de ensino, 107 delas, na capital. A interiorização do projeto começou em 2006, com um enfoque mais preventivo, de acordo com Maria Cristina Pinheiro.

O Escola Viva propõe melhorias na estrutura física escolar; na relação com as comunidades (escola aberta nos finais de semana, ações voluntárias, novas parcerias); e na proposta pedagógica (alunos em tempo integral na escola, capacitação de diretores, professores, projetos/programas com parceria).

Entre os principais resultados alcançados estão a diminuição do número de ocorrências nocivas no ambiente escolar (pichações, vandalismo, arrombamentos, furtos, agressões e ameaças), conforme dados da PM; a melhoria da qualidade das relações internas da escola com a qualidade. 45% das escolas abertas no fim de semana, até o ano passado; a revitalização e reorganização dos espaços físicos; e a melhoria do desempenho escolar dos alunos.

Medidas socioeducativas - Para tratar do tema Escola na medida socioeducativa, a base para as novas conquistas, o diretor-geral do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora, Alexandre Correa Rocha falou da implantação da medida na cidade.

Segundo ele, a medida é recente em Juiz de Fora, mas foram dados avanços grandes e a passos largos desde sua implantação na Escola Clorinto Burnier. A escola, segundo ele, conta com boa estrutura física e profissional para atendimento do adolescente em conflito com a lei. "Lá, os professores não sabem nem qual o ato infracional os adolescentes cometeram, eles os enxergam como alunos", afirmou.

Os adolescentes também são envolvidos em atividades culturais, artísticas e profissionalizantes por meio de parcerias firmadas com outras entidades. "Nossa missão é apresentar ao adolescente novas perspectivas de vida e a possibilidade de transformação a partir do conhecimento", concluiu.

Deputados ressaltam importância do fórum frente ao desafio da violência

Na abertura dos trabalhos, os deputados e autoridades presentes ressaltaram a importância do debate e das contribuições para a transformação que se espera no ambiente escolar.

O deputado João Leite (PSDB), presidente da Comissão de Segurança Pública, que presidiu os trabalhos pela manhã, afirmou que o aumento da violência no ambiente escolar é preocupante. E provocou: "Em eventos esportivos, onde há 500, 600 pessoas, há um aparato policial acompanhando. Nas escolas, onde há até 3 mil crianças, não há policiais".

Ele ainda leu mensagem do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Dinis Pinheiro (PSDB), em que o parlamentar ressalta que a violência, cada vez mais frequente nas escolas, é um reflexo do momento do que vive em sociedade. "Nesse contexto, julgamos oportuna a consideração de que, se a escola reproduz, e em alguns aspectos, pode até amplificar a violência que ocorre no meio social, ela pode também contribuir para revertê-la, para construir uma cultura de convivência harmônica e respeitosa entre as pessoas", afirmou o presidente.

A importância das contribuições da sociedade com propostas para a transformação dessa realidade foi destacada também pelo presidente da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, deputado Bosco (PTdoB). Ele concorda que o problema da violência nas escolas extrapola os limites físicos das instituições de ensino e está relacionado a questões sociais.

O deputado Wilson Batista (PSL), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, defendeu a busca de oportunidades, sobretudo para as pessoas vulneráveis. "Gasta-se cerca de R$ 2 mil por mês com o preso, enquanto o investimento na área social chega a R$ 400 por mês no aluno", comparou.

O deputado ainda lamentou que o preconceito contra as pessoas com deficiência esteja tão presente no ambiente escolar.

A mobilização das três esferas de Poder e da sociedade é a chave para se alcançar a segurança pública, segundo alertou a deputada Maria Tereza Lara (PT). Ela ainda defendeu a implantação das medidas socioeducativas estipuladas pelo Estatuto da Crianças e do Adolescente (ECA) como essenciais para o combate à violência

Na opinião do deputado Bruno Siqueira (PMDB), não é possível promover segurança sem educação. "Precisamos discutir e elaborar propostas que possam ser realmente postas em prática", afirmou.

O deputado André Quintão (PT), presidente da Comissão de Participação Popular, defendeu o aprofundamento do debate para que se chegue a um diagnóstico adequado da situação das escolas. Ele falou da importância do acompanhamento social das famílias onde há crianças e jovens em situação de vulnerabilidade.

O parlamentar também destacou a importância da valorização dos profissionais da comunidade escolar e, ainda, o diálogo aberto da escola com as outras redes de proteção existentes na comunidade.

No mesmo sentido, o deputado Carlin Moura (PCdoB) ressaltou que não se pode perder o foco de que a segurança nas escolas passa necessariamente pelas condições dos trabalhadores em educação. "Se a escola trata dos conflitos sociais, precisa ter os profissionais adequados para administrar os conflitos que existem no ambiente", argumentou.

O investimento financeiro em educação, com a garantia de aplicação do mínimo constitucional de 25%, com aumento da oferta de vagas e a descentralização das políticas de ensino, foram algumas das contribuições apresentadas pela presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-Ute), Beatriz Cerqueira.

Ela afirmou que a média de escolaridade dos mineiros é de 6,2 anos e que há um déficit de 1,5 milhão de vagas para os jovens. "Esses são números oficiais, não é discurso de sindicalista. São dados com quais temos que lidar", afirmou.

A representante dos servidores da Educação também denunciou as agressões sofridas pelos professores em sala de aula. Para ela, essa questão, assim como os baixos salários recebidos pela categoria, é um problema da sociedade. "Se o profissional não é bem remunerado, não é o melhor profissional que vai cuidar de nossos filhos e sim aqueles que não puderam ingressar em outras redes", avaliou.

Fica Vivo - Para o subsecretário de Atendimento às Medidas Socioeducativas da Secretaria de Estado de Defesa Social, Ronaldo Araújo Pedron, as ações que seriam responsáveis pelo êxito do Programa Fica Vivo também deveriam nortear o combate à violência nas escolas. Essas medidas seriam a associação da segurança à repressão qualificada e à instrumentalização da comunidade para a mediação de conflitos.

"Nessa perspectiva, a escola deve ser refundada como espaço de desconstrução e reconstrução. É preciso retomar a escola como espaço de encontros", afirmou.

O desejo da estudante Roberta da Silva, aluna do Centro Educacional de referência Herval da Cruz Braz é que haja paz, diálogo, união e amizade nas escolas. "Hoje as brigas nas escolas são por motivos bobos, por disputas de gangues", contou a menina que sonha em ser professora ou policial para poder ajudar as pessoas a terem oportunidades melhores.

O papel dos pais como primeiros educadores dos filhos, responsáveis por transmitir a eles valores morais, dando exemplo de caráter e dignidade, foi lembrado pela juíza da Vara da Infância e da Juventude de Juiz de Fora, Maria Cecília Gollner Stephan. "É na família que as crianças e jovens aprendem os limites e as regras sociais, que são aperfeiçoadas pela escola", afirmou.

Segundo a juíza, a escola deve preparar o aluno para o exercício da cidadania e, por isso, também no ambiente escolar há regras e limites.

Teatro e eleição de representantes - Ao final dos trabalhos, foram escolhidos 12 delegados e seus suplentes para representarem a região na etapa final o fórum em Belo Horizonte.

Os alunos da Escola Estadual Cônego Martins Monteiro, de Matias Barbosa, apresentaram um esquete teatral sobre o tema do fórum.

Fonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais

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