quarta-feira, 20 de março de 2013

Software 'ensina' a gestores como investir em educação



Programa avalia infraestrutura escolar, mas também didática de professores e papel da família nos alunos

A professora da USP Ribeirão, Cláudia Passador, que coordenou a pesquisa que deu origem ao software (Foto: Matheus Urenha / A Cidade)

Um programa de computador criado no Centro de Estudos em Gestão e Políticas Públicas (GPublic) da USP de Ribeirão Preto pode se transformar em uma ferramenta imprescindível para a melhoria do ensino básico no país. O software, chamado Simcaq, permite aos gestores municipais saber quanto, onde e o que investir para se conseguir uma educação municipal de qualidade.

O sistema funciona com a inserção de dezenas de variáveis municipais da educação. Entre elas estão os números de escolas, salas de aula, de alunos, horas/aula por dia, jornada de trabalho e formação dos professores, número de alunos por turma etc.

A partir daí, o software faz uma projeção do quanto seria necessário investir para ajustar o sistema educacional - durante o período de um plano educacional (5, 10, 15 anos, por exemplo) - a fim de criar um ensino de qualidade.

Visão macro
De acordo com a coordenadora do GPublic, Cláudia Passador, um dos princípios que estiveram por trás da criação do Simcaq foi a possibilidade de mostrar onde estão os problemas da educação no município.

“O Brasil é muito desigual e o que a gente percebe é que, se temos escolas com quadras, bibliotecas e centros de informática, também existem escolas com as lousas penduradas em árvores. São ‘brasis’ diferentes convivendo”, afirmou.

A coordenadora do GPublic usou a realidade de Ribeirão Preto como exemplo. “Quase todas as escolas já têm uma infraestrutura que está muito acima da média do país. Mas o que se percebe aqui é a falta de investimento na carreira do professor”, afirmou.

Auxílio

O Simcaq é fruto da tese de doutorado do administrador Thiago Alves no GPublic, concluída em 2012. Atualmente professor de Administração da Universidade Federal de Goiás, ele disse que a ideia é tornar o software público. “Com a ajuda da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que apoia o projeto, vamos tentar disponibilizá-lo gratuitamente para o maior número possível de gestores municipais de educação no país por meio da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime)”, afirmou.

Segundo Alves, a existência do Simcaq está na premissa que o acesso à educação deve ser um direito universal e provida gratuitamente pelo Estado. Se não for assim, segundo ele, corre-se o risco daqueles que não podem pagar serem excluídos ou terem um serviço de qualidade inferior aos que pagam mensalidade nas escolas privadas. “A educação de qualidade não é barata. Desse modo, é preciso que o país eleja este setor como prioridade para o seu desenvolvimento social e econômico e destine a ele os recursos necessários visando atingir metas pré-estabelecidas”, disse.

Test-drive

Ao ser concluído, o Simcaq foi testado nos municípios goianos de Cezarina, Goiatuba e Águas Lindas. Nesta cidade, os resultados mostrados pelo programa foram espantosos. “[Para resolver o problema da educação] eles teriam de destinar para a rede de ensino o equivalente a todo o seu orçamento anual”, informou.

A capacidade do Simcaq de permitir aos gestores municipais uma visão mais abrangente da educação é a principal característica do programa mas, ao mesmo tempo, foi o principal dificultador para a sua elaboração. “Nós não queríamos fazer uma coisa que fosse meramente econométrica”, disse. “Queríamos que levasse em conta a infraestrutura, com número de escolas e salas de aula, mas também a formação dos professores, a grade curricular, a alfabetização dos pais e o modo como a escola é gerida, entre outros”, completou.

Fonte: Jornal A Cidade - 16/03/2013 - 22:54

Um comentário: