terça-feira, 3 de abril de 2012

O cafezinho nosso de cada dia ou a esquizofrenia da gestão da educação em Minas Gerais

De acordo com estudo do Conselho Nacional de Educação, a conquista da qualidade da educação básica pública passa por vários fatores: condições de trabalho, valorização dos profissionais através de piso e carreira, o aumento de recursos para o seu financiamento, condições de trabalho e a gestão. Minas Gerais tem problemas em todas estas questões.

Como já é de conhecimento da sociedade, o governo de Minas não paga o Piso salarial como vencimento básico inicial de carreia.

A carreira, instrumento de valorização para qualquer profissão, está congelada até dezembro de 2015, impedindo que haja qualquer incentivo pela formação ou tempo de trabalho.

Dados divulgados pelo governo mineiro demonstram que o investimento em educação tem diminuído sistematicamente desde o ano de 2008. Contraditoriamente, o custeio da Secretaria de Estado da Educação aumentou em cerca de 220 milhões, sem o correspondente aumento do número de escolas, profissionais ou projetos.As condições de trabalho das escolas estaduais podem ser descritas por:

- salas de aula superlotadas;

- organização de turmas multisseriadas onde estudantes de idades e anos diferentes ficam na mesma sala de aula;

- constantes situações de violência no ambiente escolar sem qualquer política preventiva;

- uma única professora é obrigada a responder por até 8 disciplinas diferentes;

- o professor não tem a garantia de 1/3 da sua jornada dedicada a estudo, planejamento e avaliação conforme definido pela lei federal 11.738/08;

- direitos, vantagens e férias-prêmio são ignorados;

- os profissionais trabalharam de graça uma vez que ainda não receberam corretamente pelas reposições feitas;

- projetos são desenvolvidos sem qualquer interlocução com o profissional da educação;

- o tempo do professor é definido sem a sua participação, o currículo da escola é estabelecido por quem não está na escola, não há um referencial político pedagógico.

Todas estas práticas explicitam uma gestão pouco transparente e autoritária. Não há como estabelecer uma boa gestão estando em permanente confronto com os profissionais da educação, ignorando suas reivindicações e sua real condição.

Parece que para o governo do estado estes problemas não existem porque a ordem é fiscalizar o consumo da alimentação escolar feita pelo profissional da educação, recurso que é, na sua quase totalidade, verba federal porque o tesouro estadual não investe em alimentação escolar em Minas Gerais.

O momento da "merenda" é aquela em que saciamos a fome e também encontramos o colega, desabafamos, reclamamos, temos notícia de outra escola, discutimos algum assunto que não veio definido como pauta de uma reunião. Refletir a realidade sempre nos dá condição de elaborar alternativas, de resistir ao que não queremos ou não concordamos. Por isso partilhar o pão é tão perigoso para este governo.

Beatriz Cerqueira
Coordenadora Geral do Sind-UTE - MG

Nenhum comentário:

Postar um comentário